Educação Escolar das Pessoas com Surdez
A
história da educação da pessoa com surdez tem um início triste e trágico, pois
segundo Aristóteles, a linguagem era o que dava ao homem a condição de humano. Então
como era considerada a pessoa com surdez? Nesse entendimento, as pessoas com
surdez eram consideradas como incapazes de gerenciar seus atos, mas na idade
média, verificou-se a possibilidade da pessoa com surdez estudar e a história
modifica-se com a primeira escola para surdos, criação e aprendizagem de
gestos, a imposição da oralidade até a construção de um novo olhar fundamentado
em aspectos antropológicos, em que zela pela cultura surda.
Em
decorrência do crivo da oralidade e da medicalização da surdez a marginalização
vivida pelas comunidades surdas ocorreu em todas as instâncias possíveis, desde
a representação acerca da pessoa com surdez até as estratégias pedagógicas no
ambiente escolar.
O
que fracassou na educação dos surdos foram as representações ouvintistas acerca
do que é o sujeito surdo, quais são seus direitos linguísticos e de cidadania,
quais são as teorias de aprendizagem que refletem as condições cognitivas dos
surdos, quais as epistemologias do professor ouvinte na sua aproximação com os
alunos surdos, quais são os mecanismos de participação das comunidades surdas
no processo educativo. (SKLIAR 1998, p. 21).
Somente
no século XX na década de 1960, o olhar sobre os surdos começou a se deslocar
da normativa da medicina para estudos etnográficos. No Brasil a Língua de
Sinais é denominada Língua Brasileira de Sinais (LBS), também denominada
LIBRAS, “é uma língua de modalidade gestual-visual, reconhecida como língua
natural dos surdos e constitui o “símbolo da surdez” (BRITO, 1993, p. 28).
Hoje
consideramos que a Língua de Sinais é o único meio efetivo de comunicação entre
os surdos, possibilitando-lhes se desenvolver lingüístico-cognitivamente.
Segundo
SKLIAR (in SOUZA 1997, p. 271), “a língua de sinais é uma língua plena,
natural, não um código artificial de comunicação e como tal deve ser pensada; é
um direito dos surdos não uma concessão”.
Essa
nova percepção frente às comunidades surdas, no último século, reconhece o
status linguístico da língua de sinais e compreende que os surdos têm uma
cultura surda, isto é, não como algo único, estável, mas plural, representação
de diferença.
Os
alunos com surdez precisam ser compreendidos nas suas especificidades e uma
escola inclusiva não seria apenas aquela que esteja de braços abertos para o
diferente, mas que proporcione a expansão das potencialidades de todos que
adentrarem suas portas.
A escola necessita descobrir novos caminhos
para a vida em coletividade. Tornar-se inclusiva e proporcionar a pessoas
com surdez, a aquisição e desenvolvimentos de habilidades para a vida em
comunidade como afirma Damázio “a escola deve preparar o educando com surdez a
atuar e interagir com seus pares no mundo, considerando o contraditório, o
ambíguo, o complexo e o diferente e suas consequências” .
A
inclusão do aluno com surdez deve acontecer em todos os níveis da educação,
garantindo-lhe, desde o primeiro passo escolar, a utilização dos recursos de
que necessita para superar as intempéries no processo educacional e desfrutar
os direitos escolares, no exercício da cidadania, garantidos por lei.
Segundo
Damázio no artigo educação escolar da pessoa com surdez: uma rápida
contextualização histórica, existem três tendências educacionais para a surdez:
a oralista, a comunicação total e a abordagem por meio do bilinguismo.
Oralismo:
visa à capacitação da pessoa com surdez para que possa utilizar a língua da
comunidade ouvinte na modalidade oral, como única possibilidade lingüística.
Nega a diferença entre surdos e ouvintes.
Comunicação
total: considera as características da pessoa com surdez utilizando todo e
qualquer recurso possível para a comunicação. Nega a língua natural das pessoas
com surdez.
A
bordagem por meio do bilinguismo: traz uma grande contribuição para o
desenvolvimento da pessoa com surdez, reconhecendo a língua de sinais como
primeira língua e mediadora da segunda: a língua portuguesa. O bilinguismo
favorece o desenvolvimento cognitivo e a ampliação do vocabulário da criança
com surdez.
Observa-se
a importância da educação bilíngue para a aprendizagem da criança com surdez,
sendo fundamental, para isso, que as atividades realizadas sejam adaptadas
conforme suas necessidades. Para tanto, o aluno com surdez precisa de uma
metodologia de ensino própria, com sala de aula adequada, em que predomine o
visual.
É
importante perceber que a pessoa com surdez tem as mesmas possibilidades de
desenvolvimento da pessoa ouvinte, precisando apenas que suas necessidades
especiais sejam atendidas.
A
língua de sinas torna-se imprescindível para esse processo de aprendizagem, bem
como a língua portuguesa, visto que, a primeira, servirá de mediadora para a
segunda, e a alfabetização será de forma natural, primeiramente entende-se a
Libras, e, aos poucos, associa-se ao português.
É
preciso, que a escola, não se preocupe apenas em alfabetizar os alunos com
surdez, mas sim, ofereça-lhes condições para que se tornem leitores e
escritores, não apenas codificadores e decodificadores dos símbolos gráficos,
apoiando-se menos na relação oralidade/escrita, e sim, no aspecto visual da
escrita como fator relevante no processo de sua aquisição.
Desse
modo, teremos alunos com surdez alfabetizados em ambas as línguas, conhecedores
de sua cultura, bem como da cultura ouvinte, favorecendo assim o pleno
desenvolvimento desses sujeitos, e a sua participação na sociedade, exercendo
seu papel de cidadão.
REFERÊNCIAS
DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com
Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista
Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010.
FRIÃES, H.S.; PEREIRA, M. C. C. Compreensão da leitura e surdez. In: LACERDA, C. B. F. de; GÓES, M. C. R. surdez: processos educativos e subjetividade. São Paulo :Lovise, 2000. p.113-122.