domingo, 23 de março de 2014

Educação Escolar das Pessoas com Surdez

A história da educação da pessoa com surdez tem um início triste e trágico, pois segundo Aristóteles, a linguagem era o que dava ao homem a condição de humano. Então como era considerada a pessoa com surdez? Nesse entendimento, as pessoas com surdez eram consideradas como incapazes de gerenciar seus atos, mas na idade média, verificou-se a possibilidade da pessoa com surdez estudar e a história modifica-se com a primeira escola para surdos, criação e aprendizagem de gestos, a imposição da oralidade até a construção de um novo olhar fundamentado em aspectos antropológicos, em que zela pela cultura surda. 
Em decorrência do crivo da oralidade e da medicalização da surdez a marginalização vivida pelas comunidades surdas ocorreu em todas as instâncias possíveis, desde a representação acerca da pessoa com surdez até as estratégias pedagógicas no ambiente escolar. 
O que fracassou na educação dos surdos foram as representações ouvintistas acerca do que é o sujeito surdo, quais são seus direitos linguísticos e de cidadania, quais são as teorias de aprendizagem que refletem as condições cognitivas dos surdos, quais as epistemologias do professor ouvinte na sua aproximação com os alunos surdos, quais são os mecanismos de participação das comunidades surdas no processo educativo. (SKLIAR 1998, p. 21). 
Somente no século XX na década de 1960, o olhar sobre os surdos começou a se deslocar da normativa da medicina para estudos etnográficos. No Brasil a Língua de Sinais é denominada Língua Brasileira de Sinais (LBS), também denominada LIBRAS, “é uma língua de modalidade gestual-visual, reconhecida como língua natural dos surdos e constitui o “símbolo da surdez” (BRITO, 1993, p. 28).
Hoje consideramos que a Língua de Sinais é o único meio efetivo de comunicação entre os surdos, possibilitando-lhes se desenvolver lingüístico-cognitivamente. 
Segundo SKLIAR (in SOUZA 1997, p. 271), “a língua de sinais é uma língua plena, natural, não um código artificial de comunicação e como tal deve ser pensada; é um direito dos surdos não uma concessão”. 
Essa nova percepção frente às comunidades surdas, no último século, reconhece o status linguístico da língua de sinais e compreende que os surdos têm uma cultura surda, isto é, não como algo único, estável, mas plural, representação de diferença. 
Os alunos com surdez precisam ser compreendidos nas suas especificidades e uma escola inclusiva não seria apenas aquela que esteja de braços abertos para o diferente, mas que proporcione a expansão das potencialidades de todos que adentrarem suas portas.
 A escola necessita descobrir novos caminhos para a vida em coletividade. Tornar-se inclusiva e proporcionar a pessoas com surdez, a aquisição e desenvolvimentos de habilidades para a vida em comunidade como afirma Damázio “a escola deve preparar o educando com surdez a atuar e interagir com seus pares no mundo, considerando o contraditório, o ambíguo, o complexo e o diferente e suas consequências” .
A inclusão do aluno com surdez deve acontecer em todos os níveis da educação, garantindo-lhe, desde o primeiro passo escolar, a utilização dos recursos de que necessita para superar as intempéries no processo educacional e desfrutar os direitos escolares, no exercício da cidadania, garantidos por lei. 
Segundo Damázio no artigo educação escolar da pessoa com surdez: uma rápida contextualização histórica, existem três tendências educacionais para a surdez: a oralista, a comunicação total e a abordagem por meio do bilinguismo. 
Oralismo: visa à capacitação da pessoa com surdez para que possa utilizar a língua da comunidade ouvinte na modalidade oral, como única possibilidade lingüística. Nega a diferença entre surdos e ouvintes. 
Comunicação total: considera as características da pessoa com surdez utilizando todo e qualquer recurso possível para a comunicação. Nega a língua natural das pessoas com surdez. 
A bordagem por meio do bilinguismo: traz uma grande contribuição para o desenvolvimento da pessoa com surdez, reconhecendo a língua de sinais como primeira língua e mediadora da segunda: a língua portuguesa. O bilinguismo favorece o desenvolvimento cognitivo e a ampliação do vocabulário da criança com surdez. 
Observa-se a importância da educação bilíngue para a aprendizagem da criança com surdez, sendo fundamental, para isso, que as atividades realizadas sejam adaptadas conforme suas necessidades. Para tanto, o aluno com surdez precisa de uma metodologia de ensino própria, com sala de aula adequada, em que predomine o visual. 
É importante perceber que a pessoa com surdez tem as mesmas possibilidades de desenvolvimento da pessoa ouvinte, precisando apenas que suas necessidades especiais sejam atendidas. 
A língua de sinas torna-se imprescindível para esse processo de aprendizagem, bem como a língua portuguesa, visto que, a primeira, servirá de mediadora para a segunda, e a alfabetização será de forma natural, primeiramente entende-se a Libras, e, aos poucos, associa-se ao português. 
É preciso, que a escola, não se preocupe apenas em alfabetizar os alunos com surdez, mas sim, ofereça-lhes condições para que se tornem leitores e escritores, não apenas codificadores e decodificadores dos símbolos gráficos, apoiando-se menos na relação oralidade/escrita, e sim, no aspecto visual da escrita como fator relevante no processo de sua aquisição. 
Desse modo, teremos alunos com surdez alfabetizados em ambas as línguas, conhecedores de sua cultura, bem como da cultura ouvinte, favorecendo assim o pleno desenvolvimento desses sujeitos, e a sua participação na sociedade, exercendo seu papel de cidadão.


REFERÊNCIAS



DAMÁZIO, M. F. M.; FERREIRA, J. Educação Escolar de Pessoas com Surdez-Atendimento Educacional Especializado em Construção. Revista Inclusão: Brasília: MEC, V.5, 2010.

FRIÃES, H.S.; PEREIRA, M. C. C.
Compreensão da leitura e surdez. In: LACERDA, C. B. F. de; GÓES, M. C. R. surdez: processos educativos e subjetividade. São Paulo :Lovise,  2000. p.113-122.